A primeira idéia que nos vem à mente quando
pensamos em mulheres neste início do século XXI é a da mulher urbana,
trabalhadora, realizada e feliz porque agora se viu livre do domínio machista
que a condenava à inferioridade nas relações de gênero mantida por tantos
séculos, inclusive a obrigação de gerar filhos. Todavia, não podemos ser
ingênuas acreditando existir um único tipo “ideal” de mulher, como se ele
representasse de fato todas as mulheres de hoje, de idades variadas, com os
diversos problemas que enfrentam em suas comunidades e territórios, e com todos
os desafios que as fazem lutar por mais dignidade, seja nas relações afetivas,
na família, no trabalho ou no meio político e social em que vivem.
Mesmo considerando que são algumas mulheres
urbanas, esses seres que se fizeram autônomas por terem renda própria e por se
desvencilharem dos tabus e das muitas armadilhas dos preconceitos morais, as
que galgaram altos cargos públicos e privados, assumindo as mesmas profissões
antes reservadas exclusivamente aos homens, e que por isso são as que melhor
representam, ideologicamente, a emancipação feminina, não podemos nos esquecer
de outras tantas mulheres, as que ainda hoje vivem sob o jugo dos pais, dos
maridos2, ou dos patrões nessa sociedade com resquícios patriarcais e da
exploração capitalista desmedida, modo de vida que transformou tudo em
mercadoria. Penso nas mulheres que, mesmo tendo conquistado a emancipação
frente ao machismo, estão sobrecarregadas com o ônus da própria emancipação
conquistada, como a dupla ou até a tripla jornada de trabalho, com o sofrimento
em face das doenças antes quase exclusivas do mundo masculino, com o fardo do
provimento da prole, pelo simples fato de poderem agora romper com as relações
afetivas falidas.
Foi a partir dos anos 60 do século passado que
o movimento de libertação das mulheres desencadeou-se como parte integrante de
um movimento cultural da juventude. No final do século XX, um número expressivo
de mulheres entrou no mercado de trabalho, chegando mesmo a ser em número maior
do que os homens em determinados setores, como são exemplos as universidades.
Em algumas empresas, os quadros femininos passaram a atingir o topo da
carreira. A economia capitalista, baseada no estímulo e na criação incessante
de novas necessidades, foi a que mais contribuiu para o crescimento da
participação das mulheres no mercado de trabalho, de modo a que viessem a ser
uma fonte suplementar de rendimentos, necessária para a realização dos sonhos
da sociedade de consumo.